A (DES)EDUCAÇÃO NO BRASIL
Escrever sobre educação é sempre muito difícil. Após a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB/Lei 9.394/1996, surgiram dezenas de decretos, leis específicas, projetos governamentais e uma monumental estrutura de avaliação. Apesar de toda essa legislação, poucas ações conseguiram criar condições de trabalho nas escolas que ajudassem na “formação” dos indivíduos que frequentam esse espaço. Outro aspecto diz respeito a qual pessoa esse “sistema” educacional quer preparar/”formar”.
Como podem perceber, em poucas linhas já temos diversos assuntos para abordar. Nesse primeiro momento, vamos comentar o “sistema” educacional brasileiro.
Ao pensar um sistema de educação, esses aspectos, e outros, deveriam estar presentes alinhavando as diversas “etapas” da educação no Brasil (educação básica –infantil, fundamental, média; superior – graduação, pós-graduação). Mas, na prática, o que realmente encontramos é uma total falta de comunicação entre essas “fases” do “sistema” de educação nacional. Ao mesmo tempo que isso não acontece, também não ocorre uma relação entre as escolas, com aproximações, trocas, discussões e análise de projetos pedagógicos, que construiriam uma outra dinâmica no processo educacional. O que nos leva a afirmar que não existe um “sistema de educação” no Brasil, pois não há uma relação entre os diversos estágios da educação básica (infantil, fundamental e médio) e nem dessa com o superior.
Agora vamos ao nosso segundo momento. O que pretende essa estrutura (des)educacional? Ou ainda, quem será “formado” após passar por essa saga, ou melhor, estrutura? Parece que essas duas perguntas andam juntas. Vejamos.
Sempre escutamos que o objetivo da escola/educação é formar cidadãos críticos e produtivos para o mercado de trabalho. O que seriam “cidadãos críticos”? E formar para o mercado de trabalho, para quais postos de trabalho? Trabalho precarizado? Será que o mercado de trabalho vai receber esses cidadãos produtivos com bons salários, para terem condições de vida digna? Pensamos que não. Os cidadãos críticos se materializam em consumidores dóceis. Formar para o mercado de trabalho é fornecer uma mão de obra semiqualificada para os trabalhos precarizados, com baixos salários em péssimas condições. Assim, o que vemos é uma educação medíocre para iniciar as pessoas no medo (respeito?) às normas, leis e, principalmente, tornarem-se consumidores de produtos de péssima qualidade, descartáveis como a sua própria vida. Também espera-se que se acomodem em uma falsa felicidade de viver “dando um jeitinho (brasileiro)” com “sorriso” no rosto e o “samba no corpo”, de torcer pelos “heróis” brasileiros (na copa, no “big brother”). E dormir em um sonho de país que vai “pra frente”.
A escola tornou-se um espaço de tortura, com horas intermináveis de aula e lições, de posturas, de silêncios, de provas. Um local nada atraente. Impera a competição, o “ser melhor”, o desprezo com o conhecimento que não é o oficial. Espaço do medo, da violência real e simbólica. Espaço com a cor cinza que alimenta os caríssimos ternos italianos que circulam nos palácios de governos.
E os professores? Vítimas de um processo que não controlam. E tornaram-se sinônimo do profissional com salários baixos, com condições insalubres de trabalho, que sofrem a violência do Estado e da sociedade, entre outras. Para comprovar isso, como se fosse preciso, basta olhar como são tratados. Jornadas de trabalho em diversas escolas para garantir um salário melhor. Descaso dos governos (municipais, estaduais e federal) com a situação que se encontram no cotidiano escolar com falta de equipamentos, no cumprimento legal do piso salarial, na falta de um plano de carreira digno. Também não podemos esquecer da violência que sofrem pelo ataque da polícia em manifestações por direitos conquistados, salários dignos, planos de carreira. Algo tão acintoso que os policiais nem se preocupam em esconder o rosto ou seus nomes ao baterem em professores e professoras na frente de câmeras do mundo inteiro.
Voltando à nossa pergunta, quem será formado nesse “sistema” educacional? A triste conclusão é esse indivíduo, mesquinho, consumista, que não entende o que lê, não conhece princípios de matemática e que escreve de forma rudimentar o nome. Tudo isso para acreditar que a felicidade é continuar a receber salários que mal pagam as necessidades básica de sua vida.
Se o leitor chegou até aqui, percebeu que tratar sobre educação não é tão simples como apresentam os candidatos aos diversos cargos políticos. E que fazer a crítica (falar mal) da escola e da educação é simples. Mas pensar e denunciar o que realmente essa estrutura pretende é mais complexo. E, buscar alternativas e formas de resistência para enfrentar e criar um nova educação é desafiador, principalmente do ponto de vista anarquista. Nesta coluna pretendemos abordar temas gerais que envolvem a Escola a Educação e suas relações em nossa sociedade desigual. O convite está feito, sejam benvind@s!
José Damiro de Moraes